domingo, 16 de setembro de 2007

Poema primus

CHUVA

Chove.
Ca ‘stou, entregue ao desalento da mágoa, mastigando
idéias insanas, envolto em manto ignóbil de tristeza quase
parnasiana. não reencontro êxtase em Goya, minhas
atenções confundem-se com as dos pedestres no semáforo,
não há música que me vá n’alma como naqueles tempos, já
tão longe, de felicidade.
Chove.
Caem as folhas e as pisoteio sem sensibilidade para ouvirlhes
o doce farfalhar. Ocupa-se o cérebro de questões
positivistas como a preencher espaços deixados pelas
conjecturas que ali lhe fazia o coração. E o coração? Por
onde anda? Parece-me não mais poetar.
Chove.
Kafka ainda me empresta o seu quarto donde através da
vidraça assisto com fleuma sintética passearem óleos
impressionistas. Em nada me esmurram.
E ainda assim chove...