quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

MEUS AMIGOS POETAS.


Sou diacrônico em sua vida, posto que houve época para meu nascimento; mas isto não se dá a qualquer ser vivo? Fosse sincrônico e ele não lançaria mão de minha companhia, pois não se ressuscitam os mortos. Vivo intensamente os seus dias e me sobreponho aos demais. Sou jovem e, de certa forma, afeito à rebeldia que marca a juventude. Escrevo com a liberdade dos descomprometidos e desleixo daqueles que não se dedicaram aos estudos formais. Danem-se meus outros companheiros, eu lhe basto; fervilho-lhe a carne trêmula de emoções e aventuras hercúleas, dou-lhe a paixão efervescente da altivoz que sai dos pulmões e se espraia por sobre as almas ouvintes. É do balouçar de meus loiros cabelos ao vento que ele possui notícias da liberdade, liberdade que não abro mão, liberdade que me fia a existência como bem maior. Eu sou o tudo e tudo posso, não tenho medos e até os que já me juraram acabaram por desistir da idéia; atiro-me ao mar e saio em outra praia rejuvenescendo sempre, deixando pra trás os trapos de minhas desditas. Poderia ele viver sem mim? Duvido.

(Alan Ford)



Desde que conheci meu insólito amigo, e lá se vão muitos anos, tenho-o acompanhado em seus devaneios, suas angústias e amores. Travamos a empatia quando de um café solitário na Manon e desde então sua personalidade tem me seduzido, as preferências pelos mesmos tipos de letras, os passeios inesquecíveis pelo Rio de Janeiro de nossos sonhos. Somos ambos párias de uma vida social injustiçada, mas não nos lamentamos além do aceitável, compartilhamos nossos poucos recursos e fazemos deles momentos de grande prazer. Quando me quer o ombro por consolo, ofereço-o, pois também sei o quanto dói a solidão e o desejo de estar uno a alguém. Somo-nos!

(Jean Lafite)


Filho meu, presta ouvidos a tua voz interior. Vê com os olhos do coração e oiça na benevolência da alma minhas palavras de afeto. Sê, sem temores; Anda, pois guiarei teus passos. Expõe-te todos os dias a Athon e deixa o sol da felicidade resplandecer o teu sorriso. Cá'stou a agasalhar-te do frio da tristeza e a escudar-te dos injúrios da existência. Olha pro céu! Vês o azul? É a imensidão de meus olhos a te conduzir. Vem, filho, que meus braços são fortes para sustentá-lo quando a estrada lhe doer os pés na caminhada.

(R. Ferreira)



Eis-me: um corpo disforme, u'a alma flanante, um coração que insiste em me acompanhar mesmo quando dele fujo. Minha espada enferrujou na bainha por não ter inimigos para combater, meus olhos mimetizaram-se no cinza da velhice por não terem mar pra se derreterem. Visto-me com os trajes da desesperança e dou-me ao garrote vil d'uma existência inexistente. Apossar-me de verbos ativos como ser, querer, existir; é danação que impõe-me o desejo de desejar sem poder, de querer sem ser e de existir sem nunca ter sido. Findei-me quando nasci.
(Aquila)